Os búfalos de Timor Leste são da sub-espécie carabanensis (Bubalus bubalis carabanensis), os chamados búfalos dos pântanos. Estes animais existem um pouco por todo o lado nos países do extremo-oriente tropical, como as Filipinas, a Indonésia e Timor Leste. O termo "carabanensis" deriva da palavra "carabau", modo como são conhecidos nas Filipinas, e é semelhante à designação em tétum, "karau". Contrariamente aos búfalos dos rios (Bubalus bubalis bubalis) que existem na India ou no Brasil, estes búfalos destinam-se sobretudo aos trabalhos dos campos. Têm também uma função social pois dão estatuto aos seus proprietários. O dote que é oferecido aos pais da noiva pela familia do rapaz (barlaque) é também formado por búfalos. Também na religião se usam os búfalos, pois são abatidos nas cerimónias dedicadas aos antepassados. A carne ou o leite obtido destes animais é assim de pouca monta. Isto não invalida que algumas pessoas ordenhem as búfalas e consumam o seu leite, mas isto é feito de modo pontual.
São animais mais largos e atarracados do que os búfalos do rio, e os cornos atingem maiores dimensões. Apontam para trás e desenvolvem-se quase horizontalmente.
Alimentam-se das ervas que encontram, da palha do arroz e dos ramos de certas árvores.
Nas Filipinas estes animais são usados para puxar charruas e arados, com que se revolvem os arrozais. Em Timor Leste este trabalho é feito unicamente pelo pisoteio do solo. Nesta fotografia obtida em Viqueque podemos observar uma pequena manada que em círculos, vai pisando e descompactando o solo dos canteiros alagados. A palha da cultura anterior também é enterrada pelos animais, e os dejectos destes enriquecem o solo com nutrientes. O pastor, com a ajuda de uma vara, empurra os animais e canta belas canções. Um ajudante, munido de uma enxada, vai enterrando alguma palha de maiores dimensões, e desfazendo os maiores blocos de terra, assim como arranja os muros dos canteiros. É uma das mais belas paisagens da agricultura timorense. Em breve virão as mulheres e as crianças com os pézinhos de arroz que recolheram na cerca do viveiro, e em grupos enchem a paisagem de verde. Entretanto já os karau descansam atascados até ao pescoço numa poça de lama. E ruminam lentamente, como que à espera que o calor passe.
Alguns agricultores, poucos, já os substituiram por moto-cultivadores. Mas de momento ainda é dificil arranjar em Timor pessoas e peças para se manterem estas máquinas.
Algumas escolas das zonas rurais, como Natarbora e Fuiloro, já têm estábulos com búfalas. Para além de aprenderem a tratar dos animais e noções básicas de zootecnia, o leite e o queijo obtidos melhoram a alimentação dos alunos.
Apesar do aspecto arcaico, os búfalos ocupam há milénios um importante papel neste ecossistema agrícola, pois resistem melhor às doenças do que os bovinos, vivem em zonas alagadas que estes não suportariam e digerem melhor os alimentos grosseiros e fibrosos. Em Timor só falta que as pessoas tomem melhor partido deles na sua alimentação, consumindo as excelentes proteínas da sua carne e do seu leite.
3 comentários:
Ola Augusto, andava a procura de uma coisa e dei de caras com este blog. Ainda nao tinha conhecimento. Bom trabalho!
Gostei!
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