O governo de Timor tem à sua disposição recursos financeiros do Fundo Petrolífero que deverão ser utilizados para aliviar a pobreza em que vive a maior parte da população. A comunidade internacional deverá continuar a colaborar com o estado e a sociedade timorenses em áreas como a formação dos recursos humanos e de quadros ou no apoio ao desenvolvimento científico, entre outras.
O investimento na educação é uma necessidade óbvia. A promoção da educação deverá ser sempre feita a par da promoção da impressionante diversidade cultural timorense, da divulgação das culturas locais e da manutenção das várias línguas, do fataluco ao baiqueno, que por isso, também devem ser ensinadas nas escolas das regiões onde são faladas. Só um povo culto e ciente da sua cultura é verdadeiramente independente.
Escola rural de Abafala (entre Laga e Kelikai)
O governo deve fornecer o pequeno almoço e o almoço aos alunos de todos os níveis escolares pois isso deverá ter enorme repercussão positiva no desempenho académico, na saúde dos alunos e na redução do número de alunos que faltam às aulas.
A formação profissional alargada a todo o território, com aulas nas aldeias, aberta a todas as faixas etárias e em áreas como criação e manutenção de infra-estruturas (instalações eléctricas, utilização e manutenção de painéis solares fotovoltaicos ou de geradores a diesel, captação de água através de furos ou pequenas barragens e seu tratamento, construção e manutenção de pequenas redes de esgotos, conservação de caminhos e estradas, trabalhos em madeira e fabrico melhorado de barcos, casas tradicionais, etc…) informática, agricultura sustentável, agro-florestação e cuidados básicos de saúde. Ampliar ainda mais o trabalho pioneiro do Centro Nacional de Formação Profissional, em Tibar.
Melhorar as condições de saúde do povo, criar postos médicos nas knuas (um médico e uma enfermeira por 5000 residentes (Sachs, 2005) ), com fornecimento de medicação anti-tuberculose, redes mosquiteiras e medicamentos anti-malária . Tal como os outros países das zonas tropicais, Timor é afectado por malária e dengue, duas doenças transmitidas por mosquitos. A malária é responsável por muitos alunos faltarem às aulas todos os dias e leva à morte de muitas pessoas. Estas pequenas unidades de saúde poderiam ainda fornecer informação sobre planeamento familiar e dar assistência eficaz no parto e nos primeiros tempos de vida dos recém-nascidos, o que contribuiria para reduzir as altas taxas de natalidade e reduzir a mortalidade infantil(Sachs, 2005) .
Na área agrícola deve ser promovida em grande escala a agro-florestação como forma de acabar com a erosão e de promover a biodiversidade. Fomentar o cultivo das espécies florestais mais valiosas (sândalo, teca, pau rosa, mogno e pau ferro ), o cultivo de espécies para lenha doméstica (eucalipto branco, eucalipto negro (palavões, ai bubur)), divulgar as boas práticas florestais, a agricultura em socalcos, assim como o melhoramento das técnicas da produção e da qualidade do café.
O excessivo corte de árvores desta encosta levou à destruição deste espaço de floresta (Abafala)
Técnicas simples de agricultura sustentável devem ser divulgadas: adubação verde, compostagem dos resíduos e dos restos domésticos, construção de muretes de controlo de erosão, recolha de água para a rega e técnicas de irrigação, pois um dos grandes problemas da agricultura em Timor é fazer face à escassez de água da bailoron, a estação seca (que na costa norte pode chegar a 8 meses seguidos nos anos piores). Os agricultores devem ter acesso a sementes de milho e arroz melhoradas, assim como a variedades mais produtivas de tubérculos e raízes (batatas, batata doce, mandioca, taro, etc…).
Bairro pobre de Díli: uma senhora planta uma mangueira
Outro grande problema dos agricultores das zonas tropicais também existente em Timor: o armazenamento das colheitas. Contrariamente ao que muitos pensam a maior parte das colheitas não se perde no campo, mas sim na fase da armazenagem. Pequenos armazéns para os cereais e para o café . Um dos grandes problemas do café em Timor é ser armazenado em casa, onde absorve muitos odores prejudiciais.
Na área da produção de gado há que melhorar o nível produtivo dos bovinos balineses fazendo chegar aos agricultores reprodutores seleccionados, assim como combater as principais doenças infecciosas e parasitárias. Na área da alimentação existe grande potencial para arbustos forrageiros e para o aproveitamento dos resíduos fibrosos na alimentação dos ruminantes. Nesta área a Cooperativa Café Timor tem feito trabalho de grande interesse. Faltam matadouros e controlo veterinário de modo a que a carne e o leite chegue em segurança aos consumidores.
Bovino de Bali. O "Bos bandeng" é o principal bovino de Timor-Leste, onde produz bem e mostra grande rusticidade. Pertence ao mesmo género dos nossos bovinos, que são "Bos taurus", mas a outra espécie. Os zebus (Bos indicus) são praticamente inexistentes em Timor. Podemos emcontrar alguns na Missão Lopes (Dare).
Mas sem electricidade nas aldeias pouca coisa destas se pode fazer. Esta poderá ser disponibilizada por linhas eléctricas a partir de grandes centrais, ou a partir de geradores e painéis fotovoltaicos. Com electricidade podem haver computadores nas escolas, bombas para água potável, energia para moer os cereais, frigoríficos e carpintaria, carga para as baterias das famílias (Sachs, 2005). Com luz eléctrica os alunos podem estudar de noite, pequenas unidades de turismo rural podem dispor de ar condicionado.
Uma camioneta por aldeia poderia ajudar a carregar fertilizantes para os campos e outros factores da produção agrícolas, assim como escoar a produção para Dili. Transportar botijas de gás para a aldeia (no Irão o governo fornece fogões a gás/querosene para reduzir o corte das árvores que impedem a erosão das terras, e o mesmo deveria ser feito urgentemente em Timor. Muitas crianças também perdem tempo precioso a carregar lenha para o lar), levar doentes e mulheres grávidas ao hospital (Sachs, 2005).
Extensão rural em acção numa estrada da ponta Leste: Vamos proteger as nossas florestas, voltar a plantar árvores onde a floresta desapareceu e ter cuidado com o fogo na estação seca.
As necessidades de água potável e saneamento deverão ser satisfeitas rapidamente. Mulheres e crianças gastam horas sem fim a carregar água de uso doméstico num trabalho esgotante e impeditivo do desenvolvimento pessoal. Dispondo de furos de água potável tudo se resolveria. As comunidades necessitam igualmente de casas de banho e de sanitas com fossas de modo a impedir a propagação de doenças provocada pelos esgotos a céu aberto.
Satisfazer as necessidades de capital, que passam por atribuir títulos de propriedade das terras aos agricultores e garantir o acesso ao microcrédito para o desenvolvimento de pequenos negócios e indústrias.
Pequenas indústrias familiares de produção de brita (Laga)
Para saber mais: Jeffrey Sachs, “O Fim da Pobreza – como consegui-lo na nossa geração” (Casa das Letras, Lisboa, 2005).
Um comentário:
Li o post, e penso que trás um conjunto de ideias practicas muito interessantes,ao contrário dos discursos vazios de conteudo que abundam nos nossos dirigentes.
Parabéns
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