sábado, dezembro 17, 2011

As Pastagens Tropicais

Pastagem natural sob ai-bubur mutin (Eucalyptus alba)  em Hera, no início da estação das chuvas (Foto:Rui Ramos)

As Pastagens Tropicais
Prof. José Eduardo Mendes Ferrão

32ª Reunião de Primavera da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens

Escola Superior Agrária de Coimbra, 27-29 de Abril de 2011





I- Aspetos preliminares da produção de pastagens e forragens nos trópicos



Na circulação geral da atmosfera nas regiões tropicais verifica-se que:

-O sol está todo o ano perto da vertical do lugar provocando um maior aquecimento geral;

- Há uma inflexão das curvas isotérmicas na vertical de baixo para cima pelo aquecimento do ar;

- Há uma subida do ar quente e progressivo abaixamento da temperatura que provoca chuvas, por ser ultrapassada a capacidade do ar em manter mais humidade;

- Há a criação de um «vazio» ao nível da terra provocando a chamada de massas de ar de norte para sul no hemisfério norte e de sul para norte no hemisfério sul provocando ventos que no hemisfério norte são se nordeste para sudoeste no hemisfério norte e de sudoeste para nordeste no hemisfério sul devido ao movimento de circulação da terra em volta do seu eixo. Estes ventos são chamados alísios;

- No hemisfério norte estas massas de ar circulam sobre os oceanos carregando-se de humidade e nessas condições chegam às regiões tropicais, onde a humidade relativa é geralmente muito alta e assim a subida das massas de ar provocada pelo aquecimento, como se refere, provoca chuvas abundantes.

-Nas camadas superiores da atmosfera das regiões tropicais formam-se ventos divergentes, frios e secos que podem ultrapassar a zona intertropical e normalmente são barrados pelas formações anticiclónicas das zonas temperadas. Essas massas de ar têm movimento descendente e vão substituir as massas dos ventos alísios. Ao descerem de altitude vão aquecendo e provocando uma diminuição da humidade relativa. Nas regiões atingidas por estas massas de ar, não chove ou chove pouco



As condições ecológicas, no que se refere às temperaturas e intensidade e distribuição das chuvas, partindo do Equador para os Trópicos, vão variando gradativamente e os seus reflexos na vegetação são sensíveis, provocando vários tipos de associações vegetais que se interpenetram nas regiões de contacto.



Nas proximidades do Equador as temperaturas ao nível do mar são quase sempre superiores a 20º C e as quedas pluviométricas são elevadas e distribuídas em quase todo o ano, embora com intensidades diferentes conforme a posição do sol no seu movimento aparente. Estas são as características gerais de um clima equatorial a que corresponde a chamada floresta higrófila, floresta sempre verde ou floresta equatorial (os brasileiros chamam-lhe a floresta onde o homem nunca pôs o pé) que se caracteriza por uma vegetação densa de acesso difícil com uma vegetação muito variada desde árvores de elevado porte que chegam a ultrapassar 60 m de altura cujas copas formam o andar superior. Seguem-se árvores de porte mais baixo por vezes com plantas trepadeiras, depois outras ainda mais baixas, arbustos e finalmente ervagens formado o tal conjunto de difícil acesso.



À medida que nos afastamos do Equador vamos encontrar duas estações no ano, uma mais quente e chuvosa correspondente ao período em que o sol está mais perto da vertical do lugar e outra menos quente e menos chuvosa ou mesmo seca quando sol se encontra mais afastado da vertical do lugar. Nestas condições, a vegetação, ainda dominantemente arbórea, é muito menos densa, as árvores são de menor porte, têm ramificação mais baixa, as copas são mais extensas tendendo para o semiesférico ou em forma de umbela, as plantas arbustivas e ervas aparecem com maior dominância e é relativamente fácil entrar nestas associações vegetais para nelas instalar actividades agrícolas ou de criação de gado.



Caminhando progressivamente para norte no hemisfério norte e para sul no hemisfério sul a partir do Equador, as árvores cada vez são de menor porte e mais raras passando progressivamente a dominar as ervagens. Assim se segue a chamada savana com algumas árvores, a savana onde os «capins» são marcadamente dominantes, depois uma vegetação de espinhosas quando as quedas pluviométricas começam a ser mais escassas, depois as condições subdeséticas com as plantas xerofíticas entre as quais ao catos espinhosos e finalmente os desertos correspondentes às zonas de ventos descendentes, como se referiu onde as chuvas são muito escassas e muito concentradas.



As áreas de deserto, correspondentes às massas de ar que descem das camadas superiores da atmosfera, aquecendo correspondem aos chamados «anéis desérticos» que no hemisfério norte correspondem ao Sara em África, ao desertos da Arábia e às montanhas rochosas na América do Norte e no hemisfério sul ao deserto de Calari em África, ao centro da Austrália e às zonas secas da Argentina.



As zonas mais aptas para a agricultura, salvo algumas exceções, localizam-se nas zonas de savana ou de savana com algumas árvores, aquilo que nalguns países de expressão portuguesa se chama a «mata de panda» ou «mata B. B. B. (por serem dominantes espécies dos géneros Berlinia, Brachystegia e Combretum).



II- Criação de gado ou pastorícia e Pecuária



Erva e palavão branco (Eucalyptus alba): um importante ecossistema da costa norte de Timor (foto:Rui Ramos).

Nos trópicos são actividades distintas, embora possam ocasionalmente ser exercidas pelo mesmo agente. Criação de gado típica ou pastorícia é um tipo de exploração da vegetação existente, por animais que pastam livremente e que a aproveitam como entendem. Os animais vivem quase livremente em grandes áreas deslocando-se à procura das plantas que mais lhes agradam, limitando-se o proprietário a intervir quase só para retirar animais para venda. O animal depende para a sua sobrevivência exclusivamente da pastagem natural onde a intervenção do homem é nula ou quase nula O gado é vigiado por um pastor que muitas vezes tem apenas uma ideia vaga do número de animais que possui, dispersos em áreas consideráveis. Os animais, para viverem nestas condições, têm que estar adaptados a elas e assim, entre outras características, devem ser animais pequenos com pernas altas para se poderem movimentar com facilidade e ultrapassar os obstáculos que vão encontrar na área da pastagem e destinados fundamentalmente à produção de carne. Os animais apresentam ciclos de aumento e diminuição de peso ao longo do ano, conforme as disponibilidades de pastagem, relacionadas como regime das chuvas.

Na pecuária há integração dos animais na agricultura. O seu proprietário é o agricultor. Os animais comem resíduos da actividade agrícola, pastos semeados, por vezes em regime estabulado ou livre durante o dia, mas abrigando-os durante a noite e os estrumes são incorporados nos terrenos agrícolas. Os animais poder ser de pernas curtas de grande corpulência, mais sensíveis ao meio tropical por estarem protegidos parcialmente dos seus inconvenientes e orientados para a produção de carne ou de leite.



Entre estas duas situações estremas, podem encontrar-se formas intermédias que se aproximam mais do primeiro ou do segundo tipo de exploração referidos.

Assim na criação de gado podem instalar-se bebedouros, tanques carracicidas, circundar as pastagens em talhões de pastoreio intermitente, colher uma parte da pastagem nos períodos em que ela é mais abundante para fenar servindo o feno como complemento da alimentação nos períodos do ano com maior carência de alimentos, ou cultivar plantas apropriadas para fenar, com o mesmo objectivo.

Búfalos em Metinaro (Foto:Augusto Lança) 

Como regra nas regiões tropicais os pastos têm essencialmente por base plantas da família das gramíneas com várias outras espécies e as primeiras são frequentemente rizomatosas podendo assim rebentar nos anos seguintes, mesmo que a parte aérea seja destruída pelo pastoreio ou pelas «queimadas». Para a actividade agrícola estas plantas são difíceis de extirpar e a introdução de equipamento mecânico pode agravar a dificuldade na medida em que dividindo os rizomas em pedaços a operação está a fazer a multiplicação destes «capins»

Alguns destes «capins» só são palatáveis nos primeiros tempos após a rebentação e enquanto não endurecem. Se os animais tiverem alimento em excesso na pastagem, muitas destas plantas crescem livremente, endurecem e chegam a atingir grande altura e os colmos ficam duros muito grossos alguns deles como canas. Nestas condições os animais deslocam-se com dificuldade e os pastos na estação seguinte passam a ser ainda menos bem aproveitados. A solução é recorrer à queimada a que nos referiremos mais adiante e que se for bem conduzida não ocasiona grandes males.



As caraterísticas das pastagens de acordo com a composição florística e na mesma latitude vai-se modificando à medida que se sobe em altitude em consequência da benignidade do clima e pelo aumento das quedas pluviométricas.

Assim, no litoral, normalmente mais seco encontram-se os chamados pastos doces, nas zonas de altitude os pastos amargos e nas situações intermédias os pastos mistos que se aproximam mais dos primeiros ou dos segundos consoante a altitude em que se encontram.

De acordo com Scott que se dedicou a este aspecto sobretudo na África do Sul enumeram-se as caraterísticas principais de uns e outros



Pastos doces (sweetveld):

-Uma cobertura graminosa que se mantêm palatável e nutritiva ao longo do ano, mesmo que se encontre na fase de frutificação

-Ricos em arbustos comestíveis e de bom valor nutricional

-Aparecem nas baixas altitudes em zonas não atingidas pelas geadas

-Aparecem em zonas com quedas pluviométrias baixas e irregulares

-Têm uma cobertura graminosa escassa e baixa capacidade bovina por unidade de superfície

-São muito sensíveis quando pastados durante a fase de crescimento

-Têm tendência para o desenvolvimento de arbustos espinhosos

-É difícil o corte dos fenos por forte invasão de arbustos e gramíneas fortes

-São de difícil utilização quando estão na fase de crescimento e os fenos podem apodrecer no terreno durante as chuvas.


Uma vacada em Laga (Baucau) ao meio dia. Veja-se a extrema importância da sombra para o conforto dos animais. Com bem estar produzem mais leite e mais carne. (Foto: Augusto Lança)

Pastos amargos ou pastos acres (sourveld):

-A pastagem é constituída principalmente por ervas «amargas» só palatáveis durante a fase de crescimento mas durante esse tempo são muito valiosas

-Aparecem nas zonas de altitude onde o clima é mais fresco

-As quedas pluviométricas situam-se entre 650 e 1500 mm e as forragem apresenta um crescimento regular e abundante

- Se não existir uma mata, a cobertura vegetal é normalmente densa

- Estes pastos podem ser pastados intensivamente

- Estes pastos praticamente não têm árvores ou arbustos comestíveis

- Alguns destes pastos podem ser ceifados para fenar mas nem sempre se pode usar equipamento mecânico por causa da irregularidade do terreno, da presença de árvores dispostas irregularmente ou de pedras.

- A pastagem tem muito boas caraterísticas logo a seguir ao aparecimento das chuvas mas deficientes no fim desta estação porque a forragem torna-se muito grosseira e pouco palatável





Pastos mistos (mixed veld)

-Têm sempre uma parte da pastagem palatável ao longo de todo o ano

-As quedas pluvioméricas situam-se entre 400 e 800mm.

-A pastagem é densa e o encabeçamanto maior que nos pastos doces

-Resistem mais à destruição que os pastos doces e menos que os pastos amargos

-Alguns tipos, principalmente nas zonas de transição para os pastos doces podem ser invadidos por arbustos

-São moderadamente ricos em espécies arbóreas ou arbustivas comestíveis

-Nalguns casos é possível cortar o pasto, noutros isso não é possível.

-A necessidade de alimentos suplementares na estação seca é reduzida, desde que a pastagem seja orientada racionalmente





Pastos arbóreos- Nas áreas de savana com algumas árvores ou em regiões sub- desérticas podem existir árvores cuja folhagem seja comestível pelos animais. Os casos são muito frequentes. Algumas destas árvores não perdem a folhagem durante a estação seca e assim constituem um poderoso complemento da alimentação dos animais nos períodos mais ecos do ano O valor deste complemento é tanto maior quanto a forragem é mais pobre ou o clima é mais desfavorável à presença de alimentos em continuidade durante todo o ano. As acácias e o mutiate, entre muitas outras, são plantas muito frequentes nestas zonas de pastagens tropicais





III- A gestão das pastagens na criação de gado típica



No seu aspecto mais simples, muito ligado a grandes disponibilidades de áreas próprias ou concessionadas, os animais pastam e deslocam-se livremente consumindo as plantas que mais lhe agradam. Uma modificação deste sistema envolve a construção de cercas limitando as propriedades para que os animais não se dispersem por terras contíguas onde a posse dos animais pode ser contestada. A pastagem é mal aproveitada, os animais deslocam-se a distâncias maiores perdem peso, a parte da pastagem não consumida pode constituir uma espécie de barragem à deslocação dos animais. Entretanto a pastagem vai-se degradando na sua composição florística. As plantas mais tenras são consumidas muitas vezes antes de produzirem semente que as reproduziria na estação das chuvas seguinte e como a maioria não tem sistema radicular persistente, vão desaparecendo. A pastagem de pouco a pouco vai endurecendo e perdendo valor nutritivo e pode tornar-se inutilizável pelos animais por dificuldades de deslocação e empobrecimento do seu valor nutricional. Principalmente nos pastos amargos quando os animais não aproveitam completamente a pastagem os «capins» endurecem e podem constituir embaraço para a circulação dos animais. Nestes casos é vulgar recorrer-se a uma queimada controlada que destrói esta vegetação (caniços) sem afectar grandemente o solo. Ao mesmo tempo «desinfeta-se» o terreno de parasitas dos animais como as carraças aparecendo assim como medida sanitária. Além disso, o calor incidindo no solo e nas partes subterrâneas das plantas (rizomas ou raízes tuberosas) permite uma rebentação precoce e assim se pode reduzir o efeito da falta de pasto na estação seca já que os animais têm pastagem nova mais cedo.





IV -Situações de transição entre a criação de gado e a pecuária, tal como foram acima consideradas



Na criação de gado típica podem introduzir-se «melhoramentos» visando uma melhor utilização, sem deixar de ter como base a pastagem natural.



1- A Cerca - Quando numa região existem várias explorações com este mesmo objectivo, para além da demarcação da propriedade, pode fazer-se uma cerca para os animais não saírem do espaço da propriedade ou da concessão.



2- A Compartimentação da pastagem -A pastagem pode ser compartimentada em talhões mais ou menos extensos consoante o número de animais e as características da pastagem. Os animais permanecem no mesmo compartimento até comerem toda a pastagem o que por um lado tira melhor partido dos recursos e por outros evita que ela com o temo se torne inaproveitável pelos animais e estes só voltarão a este compartimento quando nele a forragem estiver reconstituída. Os animais vão assim passando de uns talhões para outros e neles permanecendo o tempo necessário para o seu aproveitamento total. È certo que nas primeiras fases os animais utilizarão melhor as plantas de que mais gostam mas a sua permanência no mesmo local obriga-os a utilizar as plantas que numa primeira desprezaram.



3- A constituição de talhões de reserva a usar se por qualquer motivo algum dos talhões deixar de reunir as condições desejáveis sendo então substituído no esquema de utilização por aquele que se tem como reserva.



4- A constituição de talhões para fenação destinados a suplementar a alimentação com os fenos aí produzidos. Muitas vezes colhe-se o feno nos talhões acima referidos de pastagem quando as disponibilidades de alimento são superiores às necessidades. O corte para fenação deve ser feito com as plantas na fase de floração ou de maturação das sementes. A suplementação com fenos realiza-se principalmente na época seca.



5- A distribuição de bebedouros. Muitas vezes estas áreas de pastagem não têm fontes de água facilmente acessíveis aos animais obrigando-os a passar sede ou a percorrerem grandes distâncias para beberem, provocando tanto uma situação como outra, uma perda de peso dos animais. Os bebedouros, convenientemente distribuídos, podem fazer ultrapassar estes inconvenientes mas é necessário acompanhar este sistema pois os animais tende a concentrar-se nas proximidades dos bebedouros e provocar um pastoreio exagerado nas redondezas e mesmo a desagregação do terreno por pisoteio.



6- Tanques carricidas -Os animais no sistema de criação de gado referido estão mais sujeitos a ataques de pragas e doenças, as primeiras atingindo principalmente a pele e mucosas com as carraças de diferentes espécies e moscas e moscardos que colocam os ovos no corpo dos animais. Podem construir-se tanques carricidas, normalmente junto das fontes de água, onde os animais são mergulhados em água com um pesticida apropriado dissolvido. Estes tanques têm a forma geralmente retangular, os animais entram neles por um plano inclinado e são obrigados a atravessar o tanque até a saída no lado oposto de tal forma que todo o corpo é mergulhado no líquido. Por isso os tanques devem ter a profundidade apropriada que na sua parte mais funda ultrapasse a altura dos animais ficando todo o corpo mergulhado durante alguns segundos. Com os animais arrastam parte do líquido quando saem dos tanques é necessário de quando em vez restituir o nível do líquido e ou juntar pesticida.



7- Abrigos – nalgumas regiões onde as noites são mais frias, principalmente no período mais seco podem constituir-se abrigos para recolher os animais durante a noite. Esses abrigos devem ser simples e baratos e muitas vezes são feitas as paredes com fardos de palha ou de feno que durante esse período mais seco e com menos forragem vão comendo como suplemento e um cobertura simples por vezes uma armação de madeira da região coberta com ramos de árvores. Estes «currais» devem ter um parque anexo vedado onde os animais possam movimentar-se e fazer os seus dejectos e por isso revestidos de mato. O material destes pátios é depois utilizado na fertilização de prados se eles forem construídos.



8- Prados regados -Quando, como é frequente as áreas de pastagem são atravessadas por cursos de água, é possível semearem-se prados artificiais com leguminosas ou gramíneas apropriadas para dar como suplemento aos animais quer verdes quer fenados.



De pouco a pouco o sistema vai-se aproximando da pecuária, tal como a definimos.



9- Os abrigos do sol - Muitas vezes estas pastagens existem e são exploradas em savanas com algumas árvores e mesmo nos outros casos pode haver uma ou outra árvore da área da pastagem. Essas árvores devem ser conservadas e podem ser um excelente complemento de resistência dos animais ao calor e por isso se juntam nas horas mais quentes à sombra destas árvores. Algumas delas dão frutos ou sementes comestíveis que os animais consomem enquanto descansam e se defendem do sol e nesse caso as árvores desempenham dupla função.



10- A «resementeira»- Em muitas grandes concessões de pastagem, por vezes ultrapassando 100 000 ha, recorre-se ao lançamento de sementes por via aérea quando a pastagem está muito adulterada quer pela variação acentuada da composição florística, quer pela rarefação da pastagem.

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Leucena em terraços para dar ao gado na estação seca numa encosta de Dare (Foto:Augusto Lança)


V- Os animais apropriados para a pastorícia



A ideia que um cidadão de um país das zona temperadas foi criando para um animal de alta vocação para a produção de carne em sistema de pecuária intensiva é, sob o ponto de vista zootécnico um cilindro de pernas curtas, massas musculares volumosas e tenras, principalmente nos quartos posteriores e pequena percentagem de gordura. O animal para viver em sistema de pastorícia tem de ter características diferentes, entre as quais obedecer aos princípios gerais seguintes:



1- Capacidade de tolerância ao calor medida pela expressão seguinte:



Cap. Tol. Cal. (CTC)= 100-(temp. do corpo-101)

Em que a temperatura do corpo é medida em graus F quando ao animal está exposto à acção direta da luz solar num dia em que a temperatura se mantenha a 85ºF. (c.a. 30ºC.). Com regra geral as raças europeias não são as indicadas para viver nos trópicos.



2 –Os animais adaptados aos trópicos têm um número mais elevado de glóbulos vermelhos no sangue



3- Os animais adaptados aos trópicos tem uma quantidade mais elevada de glândulas sodoríparas.



4- Os animais adaptados aos trópicos devem ter grande tolerância à sede pois podem ficar vários dias sem poderem beber e manterem um elevado grau de apetite. Os animais adaptados devem perder menos água pelas fezes e pela urina



5- Os animais adaptados aos trópicos devem suportar grandes períodos de fome. É muito frequente os animais das regiões subáridas acumularem gordura sob a forma de bolas de gordura de apreciáveis dimensões na região da cauda durante os períodos de alimentação mais abundante para utilizarem nos períodos de carência de alimentos.

6- Os animais adaptados aos trópicos devem reunir um conjunto de caraterísticas morfológicas:

1-Pigmentação da pele- Os animais das zonas tropicais de baixa altitude devem ter uma pigmentação da pele clara para refletirem os raios caloríficos e nas zonas de altitude onde é mais de temer o efeito dos raios ultravioletas, a pigmentação da pele deve ser escura.

2-Espessura da pele- As peles espessas são mais resistentes aos ataques das carraças e as feridas saram mais facilmente mas a dispersão do calor é mais difícil. A pele fina «treme» mais facilmente mobilizada pelos respetivos músculos e é mais irrigada à superfície, permitindo uma dispersão do calor mais fácil. O animal defende-se das moscas e de outros insetos voadores que lhe sugam o sangue, o irritam, o obrigam a manter-se em movimento, a perder o apetite e a gastar energia.

3- A pelagem deve ser constituída por pelos direitos e brilhantes formando uma camada lisa e luzidia que funciona com espelho e reflete os raios caloríferos. A pelagem espessa, constituída por pelos retorcidos e baça não é favorável à irradiação do calor.

4- Exigência quanto à qualidade dos alimentos -Os animais têm de ser pouco exigentes quanto à qualidade dos alimentos que consomem. Com frequência têm de se servir de alimentos grosseiros, comer folhas e rebentos das árvores e desenterrar órgãos subterrâneos.

5-Conformação- Um animal para ser submetido ao sistema de pastorícia deve::

5.1- Ser pequeno para se poder movimentar melhor

5.2- Ter membros altos para melhor fugir dos seus inimigos e atravessar obstáculos diversos que se encontram nos terrenos da pastagem.

5.3- Ter cauda comprida para afastar as moscas inoportunas

5.4- Ter cornos para melhor se defenderem dos outros animais e nas lutas entre eles. Mas os animais de cornos muito compridos ferem-se mais facilmente nos combates e têm maior dificuldade em se deslocar no emaranhado da vegetação arbustiva que é frequente em certos tipos de pastagens.





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